A religião é uma força de paz e a violência, muitas vezes exercida em nome das convicções religiosas, na verdade a deforma e provoca a sua destruição.
O Papa Bento XVI destacou isso hoje, no discurso que pronunciou na Basílica de Santa Maria dos Anjos, em Assis (Itália), na abertura do Dia de Reflexão, Diálogo e Oração pela Paz e a Justiça no Mundo, com o tema “Peregrinos da verdade, peregrinos da paz”.
“Como se encontra hoje a causa da paz?”, perguntou-se, recordando que, há 25 anos, o Beato João Paulo II convidou pela primeira vez os representantes das religiões do mundo a Assis, para rezar com esta finalidade.
“Naquele momento, a grande ameaça para a paz no mundo provinha da divisão da terra em dois blocos contrapostos entre si”, lembrou. O símbolo daquela divisão era o muro de Berlim, que caiu três anos depois, em 1989, sem derramamento de sangue.
“A vontade que tinham os povos de ser livres era mais forte que os arsenais da violência”, observou o Papa, indicando que esta foi de uma vitória da liberdade, uma vitória da paz.
Desde então, reconheceu, “o mundo da liberdade revelou-se, em grande medida, sem orientação, e não poucos entendem, erradamente, a liberdade também como liberdade para a violência”.
Novas formas de violência
Segundo Bento XVI, existem duas novas formas de violência, “diametralmente opostas em sua motivação”.
Em primeiro lugar, está o terrorismo, “no qual, em vez de uma grande guerra, realizam-se ataques bem definidos que devem atingir pontos importantes do adversário, de modo destrutivo e sem nenhuma preocupação pelas vidas humanas inocentes, que acabam cruelmente ceifadas ou mutiladas”.
“Sabemos que, frequentemente, o terrorismo tem uma motivação religiosa e que precisamente o caráter religioso dos ataques serve como justificação para esta crueldade monstruosa, que crê poder anular as regras do direito por causa do ‘bem’ pretendido. Aqui a religião não está ao serviço da paz, mas da justificação da violência.”
“Esta não é a verdadeira natureza da religião. Ao contrário, é a sua deturpação e contribui para a sua destruição”, declarou o Pontífice.
“É verdade, na história, também se recorreu à violência em nome da fé cristã. Reconhecemo-lo, cheios de vergonha. Mas, sem sombra de dúvida, tratou-se de um uso abusivo da fé cristã, em contraste evidente com a sua verdadeira natureza.”
“É tarefa de todos aqueles que possuem alguma responsabilidade pela fé cristã, purificar continuamente a religião dos cristãos a partir do seu centro interior, para que – apesar da fraqueza do homem – seja verdadeiramente instrumento da paz de Deus no mundo”, disse.
“A Igreja Católica não desistirá da luta contra a violência, do seu compromisso pela paz no mundo”, acrescentou.
Um segundo tipo de violência, segundo o Santo Padre, “é a consequência da ausência de Deus, da sua negação e da perda de humanidade que resulta disso”.
Os inimigos da religião buscam o seu desaparecimento, “mas o ‘não’ a Deus produziu crueldade e uma violência sem medida, que foi possível só porque o homem deixara de reconhecer qualquer norma e juiz superior, mas tomava por norma somente a si mesmo”.
“A ausência de Deus – advertiu – leva à decadência do homem e do humanismo.”
Buscar a verdade
Junto às duas realidades de religião e antirreligião, Bento XVI destacou também “outra orientação de fundo: pessoas às quais não foi concedido o dom de poder crer e todavia procuram a verdade, estão à procura de Deus”.
Estas pessoas não afirmam simplesmente que “não existe nenhum deus”, mas “sofrem devido à sua ausência e, procurando a verdade e o bem, estão, intimamente estão a caminho d’Ele”, sendo “peregrinos da verdade”.
Com a sua atitude, “aos ateus combativos, tiram-lhes aquela falsa certeza com que pretendem saber que não existe um Deus, e convidam-nos a tornar-se, em lugar de polêmicos, pessoas à procura, que não perdem a esperança de que a verdade exista” e “chamam em causa também os membros das religiões, para que não considerem Deus como uma propriedade que de tal modo lhes pertence que se sintam autorizados à violência contra os demais”.
“Que os agnósticos não consigam encontrar a Deus depende também dos que crêem, com a sua imagem diminuída ou mesmo deturpada de Deus”, afirmou.
Sua luta interior e seu interrogar-se, portanto, “constituem para os que creem também um apelo a purificarem a sua fé, para que Deus – o verdadeiro Deus – se torne acessível”.
“Por isto mesmo, convidei representantes deste terceiro grupo para o nosso Encontro em Assis, que não reúne somente representantes de instituições religiosas”, confessou Bento XVI.
Trata-se, concluiu, “de nos sentirmos juntos neste caminhar para a verdade, de nos comprometermos decisivamente pela dignidade do homem e de assumirmos juntos a causa da paz contra toda a espécie de violência que destrói o direito”.
Fonte: zenit.org
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