Justiça e Paz se abraçarão
Nós, Bispos da Igreja Católica, em reunião ordinária do Conselho Permanente da CNBB, manifestamos nossa preocupação com a crescente violência que se alastra em várias regiões do País.
Por ocasião da 44ª Assembléia Geral, em maio próximo passado, já expressamos nosso veemente repúdio aos brutais atos de violência planejados e praticados pelo crime organizado. Lamentamos que, naquela triste situação, os Direitos Humanos de muitas pessoas não tenham sido respeitados. Continuam a nos preocupar os atos de violência que ora ocorrem em muitos Estados, particularmente agravados em São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo e Bahia.
Fatos ocorridos recentemente no Pará e Maranhão mereceram declarações e manifestações nos respectivos Regionais da CNBB, às quais expressamos nosso apoio. A população encontra-se desprotegida diante das agressões de setores organizados para a exploração agrícola e de recursos hídricos e minerais. Tal situação se agrava, sobretudo, pela ausência de políticas fundiárias e urbanas, mas também pela falta de atuação adequada dos Poderes constituídos, causando o recrudescimento dos problemas sociais.
As constantes calúnias e ameaças de morte a pessoas da Igreja, inclusive bispos e padres, religiosos e religiosas, e a lideranças dos movimentos populares, trabalhadores e trabalhadoras, nas regiões de Altamira, Santarém, Xinguara e outras, criam um clima de tensão e de medo para nosso povo pacífico e trabalhador.
Lamentamos a prática freqüente e desumana de despejos, destruindo e queimando casas, quintais e roças de famílias que moram e trabalham nas suas terras há várias gerações. Denunciamos o uso indiscriminado de medidas liminares que prejudicam a população mais pobre que vive no campo e que, pelo tempo de posse da terra, já teria garantido o direito de usucapião.
A Doutrina Social da Igreja, firmada no vigor do Evangelho, proclama que a terra de trabalho deve ter primazia sobre a terra de negócios. "Deus destinou a terra com tudo o que ela contém para o uso de todos os homens e povos, de modo que os bens criados devem chegar equitativamente às mãos de todos, segundo a justiça, fecundada pela caridade" (Cf. Gaudium et Spes, n. 69).
Apelamos às autoridades competentes para que tomem as devidas providências, salvaguardando a vida das pessoas feridas e ameaçadas, e garantindo a defesa dos direitos de todos. Confiamos no diálogo e na coerência dos sistemas de Justiça e Segurança para a mediação dos conflitos e a solução das questões judiciais pendentes. Em memória dos que deram a vida por fidelidade ao Evangelho, clamamos por justiça.
É urgente a realização de projetos de desenvolvimento econômico, social e cultural que respeitem os ecossistemas e populações diferenciadas de cada região brasileira, na esperança de que "a justiça e a paz se abraçarão" (Cf. Sl 85, 11).
Como discípulos do Senhor Jesus que veio "para que todos tenham vida e a tenham em abundância" (Cf. Jo 10,10), reafirmamos nosso repúdio a todas as ameaças de morte e de violência. Apoiamos com vigor os nossos irmãos e irmãs ameaçados, agredidos e todos os que testemunham o Evangelho no dia-a-dia, porquanto acreditamos na força maior da verdade, da justiça e do amor, mais fortes que todo medo, dúvida e mentira.
Brasília, 29 de Junho de 2006
Fonte: CNBB
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