ADVENTO, TEMPO DE REAFIRMAR A ESPERANÇA
Terminamos o ano de 2008 com dois acontecimentos que irão deixar marcas profundas em todos nós: a macro-crise econômica, que mostra uma vez mais as incongruências e injustiças do sistema econômico mundial; e a catástrofe que se abateu sobre o povo catarinense com as recentes enchentes em toda a extensão do litoral. Não bastasse o desastre da falta de planejamento, transparência e honestidade na administração dos bens e recursos econômicos, em benefício de todos os povos, a natureza também tem dado mostras de que não suporta mais tanta agressão e descaso. Catástrofes climáticas se sucedem por toda parte, como se fossem gritos da mãe terra em agonia.
Iniciamos o Advento com estes dois alertas, verdadeiros chamados a uma conversão pessoal e coletiva. Estamos todos no mesmo barco. Ou mudamos ou mudamos... Não temos outra escolha. O momento é oportuno. O Advento traz em si uma proposta radicalmente nova de relacionamento entre as pessoas e os grupos humanos. É tempo de conversão e esperança.
Aconteceu algo nestes dias que nos dá a certeza de que um mundo novo é possível. É esta imensa corrente de solidariedade que brota espontaneamente entre o nosso povo, quando grandes catástrofes se abatem sobre parte da sociedade. Cenas de solidariedade e verdadeira humanidade foram exaustivamente veiculadas pelos telejornais. A comoção e o sentimento que algo deve e pode ser feito em benefício da coletividade é prova de que nem tudo está perdido. Se o sentimento de pertença à mesma espécie move tantos a praticar gestos de altruísmo e solidariedade, quanto mais será possível fazer se o que nos move é um profundo amor a Deus e aos irmãos. É com esta disposição que queremos preparar-nos para o santo Natal.
Se acreditarmos que “tudo concorre para o bem dos que amam a Deus”, podemos tirar uma lição desta tragédia. A solidariedade como uma nova forma de relacionamento é possível e já está presente. O Reino de Deus já se faz presente em nosso meio apesar das contradições com as quais nos deparamos. Vivemos numa sociedade que prioriza o lucro, o poder, a dominação, com a conseqüente exclusão de grandes parcelas da humanidade das benesses produzidas. Não se distribuem os lucros das conquistas com os mais pobres, mas basta que venha uma crise para partilhá-la imediatamente com os menos favorecidos. É o que estamos assistindo nos dias de hoje com a crise econômica mundial. De outra parte vemos como gente simples e humilde, que não tem o suficiente para si, é capaz de gestos de partilha, que fazem a festa da fraternidade.
Portanto, nem tudo está perdido. O tempo litúrgico do Advento faz-nos viver profundamente este aspecto da presença-ausência do Reino. Reaviva em nós a esperança de um futuro melhor dentro de um mundo que parece estar se deteriorando cada vez mais. Reanima a nossa coragem: os nossos esforços por uma vida digna, por uma sociedade fraterna e solidária. Reaviva o nosso amor e desejo de recomeçar a vida que nem mesmo a fúria da natureza consegue abalar. Alguém espera por nós no ponto de chegada, e já se faz presente como companheiro de caminhada: o Senhor Jesus, que se fez um de nós e nos amou sem medida dando a própria vida, para que tivéssemos “vida em abundância”. “Vem, Senhor Jesus!”
Advento é um tempo apropriado para fomentar a esperança, uma esperança que transcende o limite das necessidades materiais e imediatas, uma esperança que inclui uma visão de mundo, de tempo e espaço onde é possível a partilha, a justiça e o amor, o equilíbrio da vida e da criação de Deus.
Ao findar de mais um ano, e na trilha da esperança, agradeço de coração todo o trabalho e a vida partilhada nos mais diversos trabalhos e ministérios. Para os que deixam algum apostolado e assumem outro serviço, que o façam em espírito de desprendimento e disponibilidade própria dos dehonianos. Que mais uma vez o Advento e o espírito natalino nos encham de alegria e esperança.Invoco para religiosos, seminaristas, funcionários, benfeitores e paroquianos as maiores bênçãos do Menino Deus. Muita alegria, saúde e paz para todos.
Um Feliz Natal e um Próspero Ano de 2009
Pe. Léo Heck, scj
Superior Provincial BM
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